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Sumo de beterraba e uva passa limpa e desintoxica o fígado?

23 Out 2023 - 11:13
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Sumo de beterraba e uva passa limpa e desintoxica o fígado?

O sumo de beterraba e uva passa é apresentado nas redes sociais como uma bebida com alegados benefícios para a saúde, nomeadamente a sua suposta capacidade de limpar e desintoxicar o fígado.

Numa publicação num grupo de receitas caseiras escreve-se que esta é uma “bebida saudável e deliciosa” que, além de ter benefícios para o intestino, imunidade e doenças cardíacas, protege o fígado.

Segundo os autores destas publicações, a receita consiste em cortar uma beterraba grande em pedaços pequenos e colocá-la a ferver juntamente com meia chávena de uvas passas durante 10 minutos. Quando o preparado arrefecer, aconselha-se bater “tudo no liquidificador até ficar homogéneo”. Por fim, o sumo é coado e adiciona-se sumo de um limão.

Noutra publicação, este sumo é apresentado como um “remédio que limpa o fígado” devido às suas “propriedades medicinais naturais”. 

O post remete para um site em que se defende que as uvas passas são “ricas em resveratrol, um antioxidante que ajuda a regenerar as células hepáticas”. É ainda referido que a beterraba ajuda a “desintoxicar e depurar o fígado, eliminando toxinas e resíduos prejudiciais”.

Mas haverá evidência científica que suporte estas alegações? Este sumo tem mesmo a capacidade de limpar e desintoxicar o fígado?

É verdade que sumo de beterraba e uva passa limpa e desintoxica o fígado?

Em declarações ao Viral, Filipe Nery, hepatologista e diretor-clínico da Clínica do Fígado, refere que “não existem” produtos naturais que “limpam e desintoxicam” o fígado.

Dizer que o sumo de beterraba a uva passa “limpa e protege o fígado”, afirma, é uma “terminologia popular, calão”.

“Podemos falar de fármacos, substâncias, que podem ser benéficas para a saúde, mas não podemos dizer que limpam o fígado”, explica o médico.

Por outro lado, a uva passa tem “valor calórico alto”. Por isso, não é recomendada uma “ingestão alta” deste alimento a doentes diabéticos, por exemplo.

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O tratamento-base para o fígado gordo é a diminuição do peso, indica o médico. O especialista aconselha aos pacientes uma “dieta mediterrânica verde, sem ingestão de fritos nem assados, em que o azeite é a única gordura”. 

O médico recomenda ainda que “eliminem as carnes vermelhas e o açúcar”.

Ou seja, o sumo de beterraba e uva passa “não é um medicamento”, nem pode ser encarado como um “tratamento” para o fígado. No entanto, para o hepatologista, poderá ser utilizado como “coadjuvante numa dieta saudável”.

Um estudo publicado na Frontiers em 2023 comparou, durante 12 semanas, 180 pessoas divididas em quatro grupos: controlo, dieta mediterrânica com sumo de beterraba, dieta mediterrânica e sumo de beterraba.

A investigação sugere que o sumo de beterraba poderá ser um tratamento eficaz na doença hepática gordurosa não alcoólica, uma vez que se verificou uma “redução significativa” na “esteatose hepática” nas pessoas dos grupos que receberam sumo de beterraba e alimentação mediterrânica comparada com sumo de beterraba. 

No entanto, para Filipe Nery, a investigação está “mal desenhada” porque os doentes têm de ser selecionados “criteriosamente”, com “biópsia hepática”, o que não acontece no caso deste estudo.

A importância do fígado

Ao Viral, o diretor-clínico da Clínica do Fígado explica que este é um “órgão muito grande” com cerca de 500 funções conhecidas, sobretudo de “cariz metabólico”. Ou seja, é uma “fábrica metabólica”.

“Quando ingerimos um medicamento ou alimento tem de ser processado de forma a que os seus compostos entrem em circulação. O fígado é fundamental para converter o que ingerimos”, acrescenta.

Por exemplo, a proteína é absorvida e convertida em amónia, uma toxina para o organismo. É no fígado que é convertida em ureia, esclarece o médico ouvido pelo Viral.

Um texto da Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF) assinado por José Presa refere que o fígado é o “segundo maior órgão e a maior glândula do corpo humano”.

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Nesse sentido, um caso de inflamação ou lesão pode “comprometer as funções do fígado” e, consequentemente, originar complicações a curto e longo prazo.

O mesmo texto refere que as doenças mais comuns deste órgão são o fígado gordo, as hepatites, a cirrose hepática e o cancro do fígado. Na maior parte dos casos, são “situações resultantes de hábitos de vida pouco saudáveis”, como má alimentação, sedentarismo e consumo de álcool e drogas.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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Categorias:

Alimentação

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Produtos naturais

23 Out 2023 - 11:13

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